A Profissão da Terapia Ocupacional (TO) surgiu nos primeiros anos do século XX, sendo que a ideia da ocupação ou da diversão de qualquer espécie já era vista como benéfica para os doentes na história da humanidade (FRANCISCO, 1988).
As civilizações da antiguidade como os egípcios, romanos e gregos, até mesmo Hipócrates (pai da medicina) e Galeno, usavam da ocupação como um meio de tratamento do corpo e da alma de acordo com a compreensão da sua época (BEZERRA, 2013; MEDEIROS, 2003).
No fim no século XVIII e princípio do século XIX, a corrente filosófica do humanismo imperava e a ocupação se tornou largamente aceita para o tratamento do doente mental. Quando na França, em 1791, Dr. Philippe Pinel, reformulou seus atendimentos com os doentes mentais que ficavam isolados da sociedade em asilos, utilizando a ocupação como forma principal de seus atendimentos, propondo que o trabalho mecânico executado era capaz de garantir a manutenção da saúde substituindo a brutalidade pela gentileza e a ociosidade pela ocupação. Pinel foi considerado pioneiro nesta abordagem conhecida como “Tratamento Moral”, esse tratamento usava uma abordagem mais formalizada acerca do uso do trabalho, como mais um recurso de tratamento do doente mental. Acreditava-se que esse tratamento desempenhava uma função corretiva e disciplinar, sendo o principal recurso para a organização e manutenção também do ambiente asilar, porque contrapunha-se ao ócio desorganizador e por esse modo se esperava alcançar a reinserção social. Esse tratamento acabou sendo difundido pela Europa e pela América no final do século XIX (SHIMOGUIRI, 2017; WILLARD, 2011; MEDEIROS, 2003; FRANCISCO, 1988).
Após esse período, a concepção da época estava sendo mudada pela influência da racionalidade positivista no pensamento científico e pela busca por métodos anatomofisiológicos e farmacológicos de intervenção. Ao invés do ambiente, o cérebro era objeto de explicação e tratamento da doença mental. O aparecimento da tecnologia mais avançada, com a implementação do racionalismo experimentalista e a afirmação do cientificismo como atitude intelectual fez das instituições de atendimento aos doentes mentais grandes laboratórios experimentais (BEZERRA, 2013; DE CARLO, 2001; FRANCISCO, 1988).
O tratamento Moral declinou nesta época em que os acontecimentos geraram novos conhecimentos tecnológicos da medicina. A utilização dessa prática foi apenas um precursor da TO, foi no Canadá e nos Estados Unidos, que Enfermeiros e Assistentes Sociais recebiam treinamentos específicos por Médicos que acreditavam nesse tipo de intervenção como terapêutica. A diferença fundamental entre as antigas práticas e a nova estava na natureza sistemática de como a ocupação era utilizada e na integração das formações de conhecimento científico para a compreensão do efeito terapêutico da ocupação que seria eficaz tanto para convalescença do doente como para o próprio ambiente hospitalar (MEDEIROS, 2003; WILLARD, 2011; FRANCISCO, 1988).
O surgimento da Terapia Ocupacional acontece dentro dos contextos das Grandes Guerras no mundo que acompanhavam a crescente incidência de incapacidade relacionadas também aos acidentes industriais. A I Guerra Mundial, em 1914 a 1918, teve uma grande demanda para reabilitação. Preparando pessoas para o tratamento de pessoas incapacitadas. Em função disso ocorreu uma mobilização visando a reabilitação e reinserção social do indivíduo pela restauração de sua capacidade e competência para um papel produtivo em sociedade, o tratamento por intermédio das ocupações propunha o treinamento de hábitos adequados de autocuidado e de comportamento social mediante gradualismo de demandas físicas para a atividade (DE CARLO, 2001).
Em 1917, um pequeno grupo de médicos, enfermeiros, arquitetos, Assistentes Sociais, secretárias e professores de artes e trabalhos manuais. Reuniram-se com o pensamento de que a ocupação favorece de modo considerável sua função na cura e na saúde. Esse encontro registra a criação da National Society for the Promotionof Occupational Therapy (NSPOT) e é o que hoje é chamado de American Occupational Therapy Association ou (AOTA). Essa reunião marcou as origens da profissão de TO, criou-se uma escola formadora de TO vinculada à universidade, firmando-se como área própria. Com o surgimento de mais escolas em todo país, levou-se a oficialização dos currículos. Estabelecendo padrões de formação e consolidação dos fundamentos da profissão e sua organização (WILLARD, 2011; MEDEIROS, 2003)
Com a II Guerra Mundial em 1939 a 1945, surgiu a necessidade de mais Terapeutas Ocupacionais para atuarem com a maior demanda de incapacitados. Os Terapeutas Ocupacionais precisaram ser capacitados para atividades construtivas, trabalhos manuais e cada vez mais para o uso de tratamento das atividades de vida diária (AVD). Assim com as demandas para os atendimentos com disfunção física, ocorreu uma reorganização do currículo das escolas de TO. Em 1947, acontece a edição do primeiro livro na área física, editado por Hellen S. Willared e Clare S. Spackman. E o primeiro curso de pós-graduação, na Califórnia (WILLARD, 2011).
No Brasil, o inicio da profissão ocorreu em 1957, em São Paulo no Instituto de Reabilitação da Faculdade de Medicina da USP, e no Rio de Janeiro na Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação – ABBR. Os Primeiros cursos de TO tiveram ênfase na área física voltada a reabilitação, objetivando desenvolver as capacidades funcionais e residuais (MEDEIROS, 2003).
Em 1963, aprovou-se o currículo do curso de TO e Fisioterapia da ABBR, no RJ. Foi reconhecido como nível superior em 1969. E oficializada em 1971 e, em 1975, foi criado o Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – COFFITO. Atualmente existem cursos de graduação em TO em quase todos os estados do país (MEDEIROS, 2003; DE CARLO, 2001).
Em 1980 criou-se o Sindicato da categoria, em conjunto com a Fisioterapia. E também o MEC em 1983, amplia para quatro (4) anos o curso de graduação com duração de 3.240 horas (CAVALCANTI, 2011).
Em 1994, foi organizada a Associação Brasileira de TO – ABRATO
Em 2004, adequou-se o currículo mínimo para a graduação aprovada pelo MEC, com 3.600 horas (CAVALCANTI, 2011).
Na trajetória do TO houve a busca por atendimentos junto com equipe multidisciplinar, independente da patologia atendida em uma perspectiva integral de prevenção, promoção em saúde e reabilitação. A reabilitação não se restringe mais à avaliação funcional e à recuperação das incapacidades, mas elas precisam dar sentido nas interações reais do sujeito em seu cotidiano. Os recursos de avaliação são parte da estratégia de intervenção isso redimensionou as práticas profissionais que buscou o compromisso com a diversidade dos processos terapêuticos experiência dos e a multiplicidade dos espaços vividos, a partir das necessidades cotidianas considerando a realidade sociocultural coletiva (DE CARLO, 2001; MOREIRA; 2017). Os recursos de avaliação são parte da estratégia de intervenção, mas a estratégia não se resume aos recursos e avaliações terapêutico-ocupacionais.
Bibliografia:
BEZERRA, Waldez Cavalcante; TRINDADE, Rosa Lúcia Prédes. Gênese e constituição da terapia ocupacional: em busca de uma interpretação teórico-metodológica. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 24, n. 2, p. 155-161, apr. 2014. ISSN 2238-6149. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rto/article/view/61238>. Acesso em: 23 feb. 2018. doi:http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v24i2p155-161.
CAVALCANTI, A.; GALVÃO, C. Terapia ocupacional: fundamentação & prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
DE CARLO, M. P.; BARTALOTTI, C. C. (Orgs.). Terapia Ocupacional no Brasil: fundamentos e perspectivas.3. ed. São Paulo: Plexus. 2001.
FRANCISCO, B. R. Terapia ocupacional. Campinas, SP: Papirus, 1988.
MEDEIROS, M. H. R.Terapia ocupacional um enfoque epistemológico e social. São Carlos: EdUFSCAR, 2003
MOREIRA, Adriana Belmonte. Terapia ocupacional: história crítica e abordagens territoriais/comunitárias. Vita et Sanitas, [S.l.], v. 2, n. 1, p. 79-91, abr. 2017. ISSN 1982-5951. Disponível em: <http://www.fug.edu.br/2018/revista/index.php/VitaetSanitas/article/view/103/86>. Acesso em: 01 Mar. 2018.
SHIMOGUIRI, Ana Flávia Dias Tanaka; COSTA-ROSA, Abílio da. Do tratamento moral à atenção psicossocial: a terapia ocupacional a partir da reforma psiquiátrica brasileira.Interface (Botucatu), Botucatu , v. 21, n. 63, p. 845-856, dez. 2017 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832017000400845&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 21 fev. 2018. Epub 03-Abr-2017. http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622016.0202.
WILLARD, H. S. Willard &Spackman Terapia Ocupacional. 11. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.
https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=7559#more-7559